Um trabalho liderado pelo Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) vem capacitando profissionais de saúde e gestores que atuam na Atenção Básica do Sistema Único de Saúde (SUS) de todo o país a combater a obesidade na população brasileira.

O projeto integra as ações estratégicas do Ministério da Saúde e conta com apoio da Universidade Aberta do SUS e da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu) na execução. “A Fapeu teve uma importante participação na gerência administrativo financeira do projeto, permitindo uma atuação mais direta e eficaz da coordenação junto à sua equipe de profissionais para a execução dos objetivos”, destacou a coordenadora do trabalho, professora Sheila Rubia Lindner.

O projeto começou a ser desenvolvido no final de 2018 e até o primeiro semestre de 2023 mais de 200 mil profissionais haviam sido beneficiados por meio de treinamentos gratuitos e on-line. “Este projeto busca auxiliar na capacitação, aprimoramento e formação de profissionais de saúde e gestores que atuam na Atenção Básica no enfrentamento da obesidade”, detalha a coordenadora.

Projeção

No Brasil, conforme o Atlas Mundial da Obesidade 2023, lançado no mês de março, 22,4% da população adulta brasileira apresenta obesidade – e a previsão é de, em 2035, 41% da população adulta conviverá com a situação no país. Entre as crianças, de acordo com a Federação Mundial de Obesidade, a taxa no Brasil é de 4,4%, o que é classificado como nível de alerta muito alto, e muito acima da taxa de aumento da obesidade em crianças em nosso vizinho Argentina ou nos Estados Unidos da América (2,4%, em ambos os casos). A questão é que o excesso de peso não se encerra em si, pois é fator de risco para diferentes tipos de câncer, diabetes, doença cardiovascular e hipertensão.

“A parceria entre ministério, UFSC e Fapeu visou suprir uma demanda de qualificação dos profissionais de saúde no tema, com o intuito de proporcionar um atendimento mais acolhedor e humanizado para a população”, acrescentou, ao lembrar da expertise dos professores do Departamento de Saúde Pública na produção de conteúdo, elaboração de cursos a distância e alto índice de concluintes nas capacitações ofertadas.

Cursos

Somente no curso “Abordagem do Sobrepeso e Obesidade na Atenção Primária” foram abertas 200 mil vagas. Até o mês de junho havia 139.125 inscritos e 79.609 concluintes.

Para os treinamentos “Reconhecendo o sobrepeso e a obesidade no contexto da Atenção Primária em Saúde” e “Promoção do ganho de peso adequado na gestação” foram oferecidas 100 mil vagas a cada um deles. Até o final do primeiro semestre de 2023, o primeiro contava 31.061 inscritos e 18.423 concluintes e o segundo, 42.629 inscritos e 25.180 concluintes. Todos com 30 horas/aula de duração e certificação aos participantes.

O público-alvo foram agentes de nível superior que atuam na Atenção Primária à Saúde, inclusive no Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (Nasf-AB) e polos da Academia da Saúde, com prioridade para enfermeiros, médicos, nutricionistas, psicólogos e orientadores de atividade física, bem como os gestores de saúde que atuam neste nível de atenção.

Os três cursos começaram em 2019 com 10 mil vagas cada, porém, devido ao número de inscritos que superou as vagas inicialmente ofertadas, houve um aumento no número de oportunidades. “A meta inicial de 30 mil vagas foi alcançada e, para atender a demanda crescente, chegamos a 400 mil vagas”, lembrou a professora Sheila Lindner.

Especialização

Intitulado “Caminhos para a gestão da Política Nacional de Alimentação e Nutrição a partir da construção de trilhas de formação e qualificação de gestores e profissionais de saúde na Atenção Primária à Saúde (APS)”, o projeto também envolveu a realização de um curso de especialização na temática de alimentação e nutrição com 375 horas de duração.

Profissionais de saúde atuantes em cargos de nível superior na atenção primária do SUS, prioritariamente enfermeiros, médicos, nutricionistas, psicólogos, profissionais de educação física e gestores de saúde da APS com vínculo de trabalho vinculados aos serviços de saúde nos níveis municipal ou estadual, formaram o público-alvo das especializações.

A primeira turma formou mais de 1,2 mil profissionais e a segunda, 358 alunos até julho de 2023. No primeiro grupo, 32,4% dos alunos foram da região Sudeste; 31,9%, do Nordeste; 20%, do Sul; 8,7%, do Norte; e 7%, do Centro-Oeste. Entre as categorias profissionais, a predominância foi dos nutricionistas (40% do total), seguido por enfermeiros (26,5%), profissionais de Educação Física (10,5%), médicos (7%), psicólogos (6%) e gestores (4,5%). Outros profissionais somaram 5,7%.

Pesquisa

O projeto ainda englobou uma pesquisa com diagnóstico das percepções e práticas de atenção à obesidade e demandas de formação necessárias para qualificação desse cuidado na atenção básica, além do desenvolvimento e utilização de duas ferramentas tecnológicas para atividades educacionais.

“As ferramentas Cadastro MEPS, para cadastro de equipamentos de promoção da saúde, e MEPS, para pesquisa de locais, foram desenvolvidas e estão funcionais, tendo ambas passado por inúmeros testes e um extenso número de versões. Ambas receberam um tratamento estético para coordenação visual entre as duas a fim de poderem ser entendidas como parte do mesmo sistema de desenvolvimento e com possibilidade de trabalho em conjunto”, explicou a coordenadora. Portanto, se depender da UFSC, os profissionais da saúde pública estão preparados para enfrentar mais esse desafio, agora contra a doença da obesidade.

PROJETO: CAMINHOS PARA A GESTÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DE TRILHAS DE FORMAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DE GESTORES E PROFISSIONAIS DE SAÚDE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE / COORDENADORA: Sheila Rubia Lindner / sheila.lindner@gmail.com / UFSC / Departamento de Saúde Pública / CCS / 173 participantes

* Esta reportagem integra a edição 15 da Revista da Fapeu.

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